28 de julho de 2016

A velha que sabia demais


Há muito tempo, vivia uma velha faceira em um vilarejo próximo ao mar. Ela muito se orgulhava por não deixar nenhuma pergunta sem resposta e as pessoas se acostumaram em acreditar que ela realmente soubesse de todas as coisas que existiam no mundo. E, ouça você — um dia, as ondas do mar trouxeram uma grande chaleira de cobre e os pescadores, que nunca haviam visto nada igual, correram para chamar a velha sabida.
— Obá, pra quê serve isso? — alguém perguntou.
— Cê não sabe? É um capacete usado pelos guerreiros na hora da batalha.

Outro pescador, segurando a alça da chaleira, então perguntou:
— E isso, Obá, pra quê serve?
— Veja bem — gesticulou a velha. — Isso vai debaixo do queixo para segurar o capacete.

Outro homem do vilarejo, apontando o bico da chaleira, perguntou:
— E isso pra quê serve, Obá?
— Isso aí eu digo, é uma espécie de estetoscópio. Sabe o que é?
Nenhum dos pescadores sabia, mas gostavam quando a velha falava uma palavra difícil. Ela sorriu e explicou:
— Quando o guerreiro põe o capacete, ele não pode ouvir quase nada... Por isso, inventaram esse tipo de extensor de ouvido.

— E por que não tem um para cada orelha?
— Vocês são muito bobos — suspirou pacientemente a velha faceira e orgulhosa. — Se fossem dois bicos, um de cada lado, os guerreiros não iam conseguir deitar com a cabeça no travesseiro! Apenas um é suficiente para ouvir.

Os pobres pescadores tinham de reconhecer: ninguém mais dava respostas tão boas quanto a velha Obá...



* Peter O’Sagae. Onze velhos bacanas e outros contos do Japão (2007).

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