26 de setembro de 2016

7. O Regresso de Peer Gynt - A Tempestade




 
De asa-delta pouso no convés
e o comandante
me cumprimenta pela decisão.
O mar canta como um canário.
O ar se congela subindo as latitudes.

As sereias
anunciarão as searas
no fim
de mais uma estação!

(De rádio?)
(Do ano, Peer!)

Viveremos
o corsário e o porto
Eu para você
Você para mim
toma conta do céu
toma conta da terra
toma conta do mar
toma conta de mim

Maria Antonieta D’Alkmin
 Solveig, please!


Feito antenas
os mastros captam
a eletricidade
das nuvens... !

A noite e o mar
formam uma única boca,
engolem destroços, cadáveres.
Tridentes espetam minha espinha.

Sinto-me um legítimo bacalhau norueguês
nesta rede de incerteza...

Será que é chegada minha hora?

(Acho que ouço os sinos!)

Deus meu, será
mesmo verdade? Morrer
justo agora antes
da música acabar?

Acenderei uma vela
agarrada ao terço.
Piedade, Senhor,
aos aventureiros.

De repente, tudo acalmou...
uma prancha vaga na vaga do mar.
Sinto-me só, perdido numa
imensa noite de orfandade.

Sinto-me só!
Sinto-me só...


* Peter O’Sagae. Peer Gynt – 7. O regresso de Peer Gynt.
Do roteiro original inspirado na música de Edvard Grieg para a peça de Henrik Ibsen. Versos incidentais de Oswald de Andrade. Rádio USP FM, 1996. Noites poéticas, 1997.

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