Desde minha partida,
tenho viajado entre os
diferentes
tempos e continentes.
Indo e vindo, caminhando
e navegando
com negros para as
Américas
e amuletos e runas para
a China.
Tudo passou
por mim: tesouros,
especiarias,
influência e outras
coisas que somam
a fortuna de um homem.
Que caminhos,
seus pés e braços terão aberto?
Aprendi a manipular
a espada do instinto e
vesti
o elmo da intuição.
O tempo, sempre o
tempo,
jogando com a sorte...
Que tesouros, meu bem tem guardado?
A fortuna da América,
um dia, naufragou.
Naufragou?
Isso mesmo, foi
por água abaixo!
Muito menos de quase
nada
foi possível salvar.
Intacta, apenas
a grande vontade de
ainda ser
o Imperador do mundo.
Ah, eu não sabia... em
primeiro lugar,
muito eu precisava ser
o Imperador de Mim!
Parte da aprendizagem,
parte desta viagem,
chamem
como melhor entenderem,
fui parar nos confins
do deserto,
sem companheiros, sem
riqueza...
Apenas com bons planos
e sonhos
e muita fome.
Que água lhe alivia a sede?
Que travesseiro lhe serve de apoio
nas horas de descanso?
No costado das ondas e
dos camelos,
entre sábios antigos e
modernos profetas
na companhia dos
beduínos, viajei
entre o Marrocos e o
Cairo.
Indo e vindo, caminhando
e navegando o passado, o
presente e
a vida futura no oceano
de areia,
meu deserto não se construiu
com solidão.
Encontrei oásis,
tâmaras e jenipapos,
guerreiros e
dançarinas.
Fui senhor em terra de
cegos.
Que alguém lhe abrandaria
as mágoas?
* Peter O’Sagae. Peer Gynt – 4. Os confins da viagem.
Do roteiro original inspirado na música de Edvard Grieg para a peça de Henrik Ibsen. Versos incidentais de Oswald de Andrade. Rádio USP FM, 1996. Noites poéticas, 1997.
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