26 de setembro de 2016

2. O Amanhecer. Na Noruega



Sempre me senti
um gigante em minha terra,
entre duendes, sílfides e nereidas.
Nada me causava medo
ou espanto entre os seres da natureza
nem mesmo os homens,
nem mesmo os troll,
nem mesmo os grandes animais.

Aase, a Velha,
sempre me contava suas façanhas.
E fui ficando encantada
com sua coragem e imaginação
frente a qualquer perigo.
Nenhuma porta, nenhum muro
seria resistência em seu caminho!

Como poucos, eu conheci as lutas e as tempestades.
Como poucos, eu amei a palavra liberdade
e por ela briguei.

A sua liberdade acima de tudo
foi raiz e corrente
a deixar-me presa
ao solo desta terra, fria
demais sem você.

Conquistei territórios, acumulei riquezas,
tornei-me imperador de mim mesmo.

Tenho morado
nesta cabana, nosso castelo,
desconfiando de seu esquecimento
sobre o passado em que vivo.

Mares e terras, abismos venci.

Talvez tudo não seja nada
além de um sonho,
meu pesadelo lento e
acalanto...
Aase dizia coisas, Aase sabia!
Ai de mim, tola! Deixei-me
levar por sua balada, balelas...

Aase! Como era
forte essa mulher!



* Peter O’Sagae. Peer Gynt – 2. O Amanhecer. Na Noruega.
Do roteiro original inspirado na música de Edvard Grieg para a peça de Henrik Ibsen. Versos incidentais de Oswald de Andrade. Rádio USP FM, 1996. Noites poéticas, 1997.

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