Pra m’inspirar
abro a janela como um jornal...
O silêncio é
uma paisagem constante.
Querida
Solveig,
Peer Gynt,
Tenho
pensado muito em você...
E agora nesta hora da minha vida
tenho uma vontade vadia como um fotógrafo.
Uma vontade
de voltar, vontade
que cresce a
cada ilha
e passos
deixados para trás.
Em sonhos, pequenos delírios
ouço as palavras que são suas.
Palavras repetidas
em um sorriso elegante e sem jeito,
como o canto de pássaros
que ninguém vê nas árvores.
Quem
sabe....
no futuro,
quando os homens
inventarem
as agências de correio,
Quem sabe, os amantes
talvez possam trocar
carinho e chocolate em suas cartas!
todos os
amantes
possam
trocar
confidências
em segredo!
No entanto, é grande a espera até
que você chame a Federal Express...
Eu
aproveitaria
e mandaria os
cartões postais
dos lugares
que vi...
tantas
paisagens, oceanos, imagens...
E eu guardaria
as polaroides recebidas
como o roteiro de sua viagem.
Mas há essa
distância!
Toda essa ausência...
A maldita
distância
no tempo e
no espaço
deixando
tudo impossível!
consome horas
e horas de espera...
Como eu gostaria,
de um dia, receber
notícias suas.
Querida
Solveig,
minhas
cartas mal escritas,
meus afetos
em desalinho
ficam
comigo guardados
para serem
todos entregues
em seu
ouvido.
Quem sabe,
ecoarão
nossas vozes
pelo
tempo... o ar
carregado
de eletricidade!
Que alegria teu rádio...
Fiquei tão contente
Que fui à missa.
Na igreja toda gente me olhava:
Ando desperdiçando beleza
longe de ti.
* Peter O’Sagae. Peer Gynt – 1. Adágio para duas vozes.
Do roteiro original inspirado na música de Edvard Grieg para a peça de Henrik Ibsen. Versos incidentais de Oswald de Andrade. Rádio USP FM, 1996. Noites poéticas, 1997.
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