4 de abril de 2014

SONHOS

Edgar Allan POE / Peter O'sagaE *

Oh! Minha jovem vida é um sonhar incessante!
Meu espírito não despertou à luz do instante
De uma Eternidade que venha a aurora dispor:
Sim! Apesar do longo sonho verter em desespero e dor,
Melhor o sonho que a dura realidade
Da vigília por viver — por quem seu coração arde,
E sempre assim, sobre a terra ternamente,
De antigas paixões — um caos revivescente!

Todavia, por que não — este sonho sem fim
Permanecer — como todos os sonhos para mim
Em minha vida de criança — e assim permanecer
O que era ingênua espera pelas delícias do Céu!
Quando branco sol que eu tinha me afagava
No azul do verão; nos campos de luz eu sonhava,
E distraidamente lá abandonei meu coração
Tão além — no calor da imaginação
Em minha própria casa, com os seres do espaço infinito
Do meu pensamento — o que mais tenho visto?

Era uma vez e somente uma vez a hora a correr
De minha selvagem lembrança — e algum poder
Ou encanto a me prender — era o frio vento
Vindo atrás de mim e no meio da noite esquecendo
Sobre meu espírito a sua imagem, ou a lua em romaria
Que brilhava e acendia em meu sono o meio-dia
Tão friamente — ou as estrelas — era entretanto
Um noturno alento o sonho que passou por encanto.

Fui feliz — mesmo ainda em sonho.
Fui feliz — e amo tudo o que proponho —
Sonhos! Em suas cores tão cintilantes de vida —
Assim como no nevoeiro fugaz da misteriosa intriga
Da semelhança que traz com a realidade
As coisas mais lindas que o olho invade
Do amoroso Paraíso – e tudo o que nos pertenceu!
A Esperança que a alegre hora jamais compreendeu.


* Um dos primeiros poemas de Edgar Allan Poe, escrito e revisto entre 1827-1828, que me faz pensar noutras cores para a sua juventude. Os versos apresentam aquele quê de pessimismo romântico, mas hoje tão leve, mais a saudade de algo que parece não pertencer a nenhum momento, parte da presente vida... E há um idealismo mágico de criar paisagens dentro da mente, com o mesmo olhar que tem a infância. É o que arrisco... neste mês de abril. Imagem: Retrato de Edgar Allan Poe, por John A. McDougall, miniatura em aquarela c. 1846.

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