2 de abril de 2014

O LAGO — A QUEM —

Edgar Allan POE / Peter O'sagaE *

Inda no frescor dos anos, a minha estrela
Assombrar ia o vasto mundo de mácula
Por não poder amar, senão —
Tão amorosamente a solidão
De um agreste lago, com escuras pedras,
E entre as altas torres dos ciprestes confinado.

Contudo quando a Noite jogava seu manto
Sobre todos, como sobre o pranto,
E o vento místico descia
Murmurando em melodia —
Eu então — eu então despertava
Frente ao terror do isolado lago.

Não era aquele o terror do espanto,
Só um trêmulo encanto —
Um brioso pressentimento intocado
A inspirar-me ou obscurecer o significado —
Jamais o Amor jamais — embora fostes Tu o amado.

Ondejava a Morte na maligna água,
E em seu colo um túmulo cavava
A quem o coração quisesse ali ver consolado
A quem imaginasse ser —
A quem a solitária alma pudesse fazer
Um Éden do belo e torvo lago.


* De Edgar Allan Poe, “The Lake – to –.” (1845). O texto possui outras cinco versões registradas desde a publicação de Tamerlane and other poems, em 1827. Tradução: Peter O'Sagae (2014).

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