18 de agosto de 2025

Minha triste cidade

trad. peter O sagae
MINHA TRISTE CIDADE
(no dia da ocupação sionista)

O dia em que vimos a morte e a traição,
A maré recuou
E as janelas do céu se fecharam,
A cidade prendeu a respiração.
Dia em que as ondas retrocederam; e então
O abominável abismo
Revelou seu rosto à luz.
A esperança foi reduzida em cinzas,
Enquanto a agonia da desgraça engolia
Minha triste cidade.

Sem um aceno, nem um eco
Foram-se as crianças e as canções;
A tristeza vergonhosamente rasteja
Em minha cidade, os pés ensanguentados.
O silêncio domina minha cidade,
O silêncio como o descanso das montanhas,
A noite escura, o trágico silêncio
Carregando o peso da morte e da derrota.
Oh, calada, minha triste cidade!
Na tempo da colheita, podem
Assim queimar os grãos e frutos?
Ai de mim! O fim da jornada!
dobrasdaleitura | Enquanto traduzo, ouço Bisan Owda @wizard_bisan1 falando da esperança que ela mesmo encontrou, contra o fundo da depressão que toma seus ânimos e sentimentos, ao ver, no meio da rua de sua cidade destruída, uma menina preparando alimento em volta de um forno de barro. Fato é que não há como desertar de sua própria terra (o que ainda resta é faixa dentro da faixa, algo menor que 43 km quadrados para 2,4 milhões de pessoas). Não há saídas, da casa que é o chão da Cidade de Gaza.

Então há a esperança de parar a ocupação. Este é o pedido que faz Bisan: “STOP ECONOMY”, em um movimento de GREVE GLOBAL no dia 21 de agosto @globalstrikegaza atualizações em @humantiproject, Que nosso dinheiro não forneça mais o suprimento à opressão e aos crimes de aniquilamento de um povo.

O poema de Fadwa Tuqan fora escrito em 1967, logo após a Guerra de Junho, e então incluído no livro A noite e os cavaleiros (1969); recorri algumas outras traduções em espanhol, uma versão em inglês de Franklin Huntington e mais outra e, por fim, ao estudo de Norma Ismail Abu Hejleh sobre a poeta palestina (2013).

#FadwaTuqan
#FadwaTouqan
#فدوى_طوقان

#dobrasdapoesia
#umacartaparaduascrianças
#freepalestine #palestinalivre
#palestine🇵🇸

20 de maio de 2025

Coisas que você pode encontrar escondidas em meu ouvido

outro poema de Mosab Abu Toha, trad. peter O sagae


I

Quando abrir meu ouvido, toque-o gentilmente.
A voz de minha mãe entrelaça-se em algum lugar lá dentro.
Sua voz é o eco que me ajuda a recuperar o equilíbrio
quando me sinto tonto exigindo concentrar-me.

Você encontrará cânticos árabes,
poemas em inglês que recito a mim mesmo,
ou um canção que entoo para os pássaros chilreando em nosso quintal.

Quando você dar os pontos no corte, não se esqueça de devolver tudo isto a meu ouvido.
E em ordem como você faria com os livros em sua estante.


II

O zanana do drone,
o rugido de um F-16,
o zunido das bombas caindo sobre as casas,
sobre os campos, e sobre os corpos,
dos foguetes voando para longe —
libere meu pequeno canal auditivo deles todos.

Borrife o perfume de seus sorrisos sobre a incisão.
Injete a canção da vida em minhas veias para me acordar.
Suavemente toque o tambor e minha poderá dançar com a sua,
meu doutor, noite e dia.

leia abaixo o poema
“Meu avô e minha minha casa”
#umacartaparaduascrianças
#dobrasdapoesia


14 de maio de 2025

MEU AVÔ E MINHA CASA

um poema de Mosab Abu Toha, trad. peter O sagae


I

meu avô costumava contar os dias para o retorno com os dedos
ele então usou pedras para contar
não foi suficiente
ele usou nuvens pássaros pessoas

a ausência tornou-se demasiado longa
trinta e seis anos até sua morte
agora para nós tem mais de setenta

meu avô perdeu a memória
esquecia os números as pessoas
esquecia o lar


II

avô eu esperava estar com você
poderia ter aprendido a escrever incontáveis poemas para você e pintado nossa casa
para você
teria costurado para você rente ao chão
uma mortalha bordada com as plantas
e as árvores que você cultivara
eu teria extraído para você
o perfume das laranjas
e o sabão das lágrimas de um alegre céu
não poderia pensar em algo mais puro


III

sigo todos os dias ao cemitério
procuro pelo seu túmulo todavia em vão
eles afirmam que o enterraram
ou você se transformou em uma árvore
ou você tenha ainda voado como um pássaro
para o nada


IV

deposito sua foto em um vaso de barro
rego todas as segunda e quintas-feiras ao pôr do sol
contaram-me que você costumava jejuar nesses dias
no ramadã rego todos os dias
por trinta dias
ou menos ou mais


V

quão grande você quer nossa casa
eu posso continuar escrevendo poemas até que você esteja satisfeito
se desejar eu posso anexar um planeta vizinho
ou dois


VI

para este lar não irei traçar limites
nem sinais de pontuação


* * *

Mosab Abu Toha nasceu em 1992, é um poeta palestino, autor de pequenas histórias, ensaísta, além de trabalhar mais recentemente como cronista de guerra.

Abu Toha é fundador da Edward Said Library, a primeira biblioteca em língua inglesa em Gaza e, no biênio 2019-2020, foi o escritor visitante e bibliotecário residente da Universidade de Harvard. Seu livro de estreia Things You May Find Hidden in My Ear (City Lights, 2022) é seu livro de estreia, conquistando o Palestine Book Award e também o American Book Award.

Em 2025, Mosab Abu Toha ganhou o Prêmio Pulitzer Comentarista, por seu retrato da guerra de Gaza para a revista The New Yorker.

@mosab_abutoha
#dobrasdapoesia
#umacartaparaduascrianças
Crédito da foto: Mohamed Mehdy

29 de janeiro de 2025

dois poemas-envelope de Emily Dickinson

252

Neste pequeno viver
que dura meramente uma hora
Quanto – quão pouco
está em nosso poder.
821

O entardecer e o oeste e
a beleza sem importância
que compõem o ocaso
mantém obstruído
apenas com Música, assim
a Roda dos Pássaros,
meu compromisso com o alto.
* tradução de peter O sagae e uns poucos comentários sobre o livro Emily Dickinson: Envelope Poems em Dobras da Leitura O'Blog.

27 de janeiro de 2025

ADMIRAR NÃO É SEGREDO



poemas de peter O sagae para angela lago
dobras da leitura, 1.ed. março de 2018
ISBN 978-85-922014-1-8


JARDIM DE NOMES


querida amiga,
deixei a ponta de uma página do-
brada
para não esquecer o poema
onde
parei

com ânsia de teu colo
recomeço a leitura
ouvindo outra vez o rumor
melancólico
e espartano – noite e dia, noite e dia,

noite e dia,
sob os passos incomunicáveis de não sei
quantas formigas

apanho com o olhar
os açúcares do caminho,
teu mundo
finamente
p a r t i c u l a r

entre os canteiros
dos versos simples do teu jardim,
espero o amor




ADMIRAR NÃO É SEGREDO (2018)
poemas de peter O sagae para angela lago